Maitê Proença relaciona Marielle Franco a Vladimir Herzog: “ela foi silenciada”

  • Por Jovem Pan
  • 19/03/2018 11h50
Johnny Drum/Jovem Pan Atriz esteve na bancada para falar sobre o espetáculo "A Mulher de Bath"

O caso de Marielle Franco vai demorar para sair da mídia. Seja no mundo da política, seja no entretenimento, o assassinato da vereadora continua (e continuará) aparecendo nas pautas. Foi assim na edição desta segunda-feira (19) do Morning Show, em que entrou na conversa dos apresentadores com Maitê Proença, a convidada do dia. Ao comentar o crime, a atriz chegou a relacioná-la com Vladimir Herzog, jornalista morto por agentes da Ditadura Militar em 1975 que virou um dos maiores símbolos de resistência do período.

“Para mim foi como Vladimir Herzog. Marielle foi silenciada no exercício de uma função para a qual foi eleita. Ela estava denunciando milícias corruptas e, para calar sua boca, mataram ela. Isso é grave em qualquer situação. É suficientemente grave para que nenhum dos lados da ‘patrulha’ se aproprie para causas que não tem a ver com o fato. Para mim, o preconceito aconteceu em outro momento. Quando abri o jornal e a internet e vi o jogo do Flamengo tendo mais destaque que a morte. Aí, sim, acho que foi porque ela era negra, mulher e favelada”, disse, criticando a postura de grupos políticos da esquerda e da direita.

Outro assunto da bancada foi o feminismo. Quando se fala no tema, muitas pessoas imediatamente mentalizam as famosas imagens das queimas de sutiãs dos anos 1980. Outras ainda imaginam as manifestações mais recentes realizadas ao redor do mundo por igualdade salarial e fim do assédio. Acontece que o movimento sempre existiu. Mesmo quando ainda não tinha nome. É o que Maitê disse que mostra atualmente nos palcos do Teatro FAAP com o espetáculo A Mulher de Bath. A peça é baseada no livro Os Contos da Cantuária (1476) do inglês Geoffrey Chaucer e dirigida por Amir Haddad. A protagonista da trama é Alice, vivúva de cinco maridos e à procura do sexto. Segundo a artista, trata-se da “primeira feminista do mundo”. 

“Ela é uma mulher que dribla a ferocidade masculina. Ela conta as falhas dos homens e relata como faz para driblá-las. Desde menina até mais madura. É muito inteligente e articulada. Tem um discurso moderno que continua moderno. E faz tudo com muito senso de humor e deboche”, explicou. “A mulher não tinha direito à educação nem à propriedade, fazia trabalhos forçados, era obrigada a ter filhos com quem não queria, era espancada, estuprada e morta com impunidade. Isso tudo continua acontecendo! E não na África ou nos países islâmicos, mas do lado da nossa casa. Existem discursos que sobrevivem as épocas. O discurso feminista sobrevive. Mudam somente as circunstâncias. Ele não evoluiu muito. Peça é totalmente explícita nisso. Tem hora que tem até um constrangimento na plateia”.

Maitê, no entanto, ressaltou que acredita que existem excessos no feminismo – assim como em todo movimento político e social. Embora se envolva na luta por direitos iguais, ela não costuma se preocupar, por exemplo, com discussões “menores” sobre presentes, elogios e aparência física.

“Não vou particularizar. Sabemos o que é fútil e o que deveria ser discutido. Acho bobo discutir com quem já concorda com a gente. Temos que fazer o discurso alcançar quem não concorda. Outro dia eu estava em um programa e as mulheres falaram que não gostam de receber flores e serem chamadas de ‘anjo’. Acho bobo. Não é essa a questão. Se alguém está sendo gentil, aceita! Se a intenção for legal, vale tudo. Por que essa agressividade? Isso desmerece a discussão. Por isso o texto do espetáculo sobrevive há 600 anos. Ele não é raso. Esse comportamento cai com o tempo. Já o discurso da Mulher de Bath é sólido”, finalizou.

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